quinta-feira, 8 de novembro de 2012


Enquanto corre


Porque quero carregar

esses pêlos carmesins
entre meus dêdos de fôme
e por não haver,
rejeitei cigarros e pêna.
Entre dentes
segurei espaçados
sonetos que me vieram de socorro
num dia
ôu três, seguidos.
Da minha precisão
de morar entre a utilidade da sua filosofia vã, rogo:
-que valham os deuses
palavrões
e pasmos.
Ainda não batizei esse desacréscimo de interesse
pelo que não te tem
em carne, pele e unha.
Eu andando
de chão em chão
segurando a barra da camisa
depois vestido
com cabelo desacreditado
insistente em cair na cara
no travesseiro e no café
que abraço
mesmo em parede de xícara quente
pedindo que no fundo
esteja o que sem nenhum sofrimento, espero.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012


Gênesis

Por motivo de juízo
mantinha as janelas pôuco abertas
pro vento entrar fino
e não desfazer canto de toalha certo.
-Ainda não escolhi uma profissão,
acho sério demais pra minha idade,
Berenice justificava antes dos trinta.
Por não ser mãe, me sentia infértil
com cabelo, molares e unhas sem utilidade.
As côisas de faz tempo
eram guardadas e pregadas na parede.
Este retrato é triste, se vê pelo bigode
pelo paletó e pela gola do vestido dela,
que segurava ares mórbidos.
Por vezes, fazia de panela, vaso de flôr
ditando as articulações pesadas.
Mas sempre tinha aderência
e nem reclamava
pedindo ao dia minutos pacientes.
Depois do domingo
a respirar difícil
fico querendo voltar a ser barro.