quarta-feira, 29 de agosto de 2012


Elegia

Boca faminta
falando de mosquitos
elegia
embora carnavais.
Peito quente
exausto de segurar coração
em marcha de samba
atropelando falante
fiozinho de choro
que desabafe
tudo o que tá podre
trapo juntado
penoso de calvário
cores que morrem
desbotadas de verão
de fertilizantes artificiais.
Lençóis despreocupados
em cama despreocupada
em casa despreocupada
co’a janela despreocupadamente aberta
coadjuvando vida
abafada.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012


Epiderme

Des’que Adélia se foi
as noites são de chás,
sem letras hedonistas
p’amenisar as pálpebras
e as palpitações cardíacas
em tórax de Adão degredado de Eva.
Corujas voam,
estrelas cantam
e as palmeiras bailam imperativas
suas liberdades imperiais.
Aves noturnas
d’asa podada,
goela engasgada
e pena desbotada
rogam da torre do sino
chá de melissa no bico
e flor de laranjeira pr'os ninhos.
Ave canção de ninar
cabeça debruçada n’colo
perfumado de macela
de dedos finos
de pontas macias
qual algodão de barriguda
anunciando cigarras
de cantar dia interim
quando amanhecer setembro.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Empréstimo

-Leonora,
traz aquele vestido
com barra rendada
e deixa no meu cabide
pr’eu abrir o guarda-roupa
e pensar que cê tá no banho.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012



Porque ir embora arde

Repara Antônio
nesse minúsculo do olho
de dentro, onde cabe o que não passa da garganta.
Tarde vasta
terra plana
camisa engomada
mas haja moleza do coração
que deixa escapar
pedaço de pele
pedaço de carne
pedaço de vontade
pedaço de pecado
pr’os dedos tristes da minha mão.
Alisa a postura, Antônio,
franze o cenho
não engole seco
que a hora taí
seca e corrosiva
manchada de roxo
e de quaresma.
Conta da flecha
da esperança
desse amor
de tudo e mais um tanto
e abre estrada pelo mundo afora
esquece
qu’espaço é só esse canto.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Um tanto

Um traço seu
um musgo no seu terreno
me deixa ser esta cicatriz na sua cara, Antônio
a fumaça que sai da sua boca,
-que você mente aliviar tensão
quero ser cereja
remédio pra dormir
ôu uma coisa qualquer que esteja mais no seu cosmo
tenho medo da vida, Antônio
quando suas pernas te levam pra longe
e quando é sexta-feira pra você
não sei que segredo escondes entre o pescoço e as orelhas até a nuca
me deixa ser aquele bolero que te convida
o samba que t’anima
a estrada reta provida
me deixa ser um canto seu
com mais força.